Quando um casal apresenta dificuldades para concepção após um ano de tentativas, ou seja, relações sexuais sem o uso de método contraceptivo, é recomendado que se inicie uma investigação da infertilidade. Dependendo de fatores como idade e histórico de saúde, ela pode começar por uma das partes, homem ou mulher, ou por ambas, sempre com a orientação do médico especialista.
As causas da infertilidade conjugal podem partir só do homem (35%), só da mulher (35%) ou por fatores mistos (30%). Em linhas gerais, 88% dos casais conseguem engravidar no primeiro ano de tentativas. Outros 15% daqueles em idade reprodutiva irão, em algum momento, buscar auxílio médico para conseguir conceber.
Ao contrário da crença popular, a infertilidade em seres humanos se encontra estável nas últimas quatro décadas. A impressão que se tem de que mais casais apresentam dificuldade para engravidar se deve ao fato de que a maioria deles decide ter filhos mais tarde, o que pode dificultar a concepção por meios naturais.
É considerada infertilidade primária quando os casais se queixam de não conseguir conceber o primeiro filho. Os casos em que o primeiro filho já nasceu, mas o casal encontra dificuldades em conceber o segundo, são chamados de infertilidade secundária. Em ambos os casos, uma série de exames é recomendada para avaliar causas femininas e masculinas.
Investigação da infertilidade feminina
Investigar as causas de infertilidade em mulheres pode começar com o exame físico e ginecológico, que podem trazer informações úteis. No entanto, testes complementares são essenciais para uma avaliação correta. Na maioria dos casos, eles podem ser realizados dentro de um único ciclo menstrual. É importante que durante a investigação a mulher não tome nenhum medicamento que leve a alterações hormonais e tenha o exame Papanicolau em dia.
Dentre as principais causas para infertilidade feminina, destacam-se:
– Fator ovulatório (28%);
– Endometriose (17%);
– Aderência pélvica (13%);
– Obstrução tubária (12%); e
– Hiperprolactinemia (8%).
Outras causas, incluindo anormalidades tubárias, respondem pelos outros 22% dos casos de infertilidade em mulheres.
Conheça melhor o que investigam os principais exames para investigar a infertilidade feminina e quando eles devem ser realizados ao longo do ciclo menstrual:
Perfil hormonal: este exame deve ser realizado entre o segundo e o quarto dia do ciclo. Recomenda-se que seja realizado pela manhã em jejum. Em mulheres com ciclos regulares deve ser solicitado FSH, LH, estradiol, prolactina e TSH. Naquelas com ciclos irregulares, além desses já mencionados também deve ser solicitado: 17-hidroxiprogesterona, androstenediona, testosterona total, cortisol, SDHEA, DHEA, glicemia de jejum e insulina em jejum.
Hormônio antimülleriano: embora apresente pouca variação no ciclo, recomenda-se sua realização durante a fase folicular inicial e sem o uso de métodos contraceptivos hormonais ou qualquer tratamento hormonal.
Sorologias completas: esse teste possui validade de seis meses para hepatite B e C, HIV, rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis e HTLV I/II e sarampo. A sorologia para Zika vírus ao iniciar o tratamento reprodutivo tem validade de 30 dias.
Cariótipo: pode ser solicitado rotineiramente ou diante de abortamento de repetição, mais de duas falhas de implantação embrionária, má resposta a tratamento hormonal, suspeita de síndromes genéticas e falência ovariana prematura.
Histerossalpingografia: avalia a função tubária e estima a competência do trato reprodutivo feminino. Deve ser realizada do sétimo ao 12º dia do ciclo.
Histeroscopia: pode ser realizada quando há suspeita de alteração na cavidade endometrial. Também deve ser feita do sétimo ao 12º dia do ciclo menstrual.
Ultrassom transvaginal: quando realizado na fase folicular do ciclo menstrual, permite melhor observação da cavidade endometrial e a constatação de presença ou ausência de folículo dominante nos ovários. Deve ser realizado do décimo ao 14º dia do ciclo.
Pesquisa de trombofilias: deve ser solicitado caso a paciente possua histórico clínico de trombose venosa profunda, abortamento ou falha de implantação embrionária de repetição. Ela investiga: anticorpos anticardiolipina (IgG, IgM, IgA), anticoagulante lúpico, FAN, antitrombina III, mutação do gene da protrombina, proteínas S e C funcional, fator V de Leiden, anticorpo antibeta- 2-glicoproteína 1 IgM/IgG, homocisteína e coagulograma.
Investigação da infertilidade masculina
A causa mais frequente para a infertilidade masculina é a varicocele, que são varizes testiculares. A investigação da infertilidade masculina tem por objetivo excluir condições potencialmente tratáveis, como deficiências hormonais, alterações anatômicas obstrutivas ou doenças, sejam congênitas ou adquiridas. Diferentemente das mulheres, o exame físico masculino traz informações mais relevantes quanto ao potencial reprodutivo.
Além da anamnese e do exame físico, veja quais e quando são solicitados exames complementares de investigação da fertilidade masculina:
Análise seminal: podem ser solicitadas preferencialmente duas amostras de espermograma, com abstinência de dois a sete dias. O paciente deve evitar o uso de lubrificantes, bem como higienização genital com produtos químicos antes da coleta.
Perfil hormonal: caso a análise seminal apresente alteração, é recomendada a investigação hormonal. A avaliação inicial inclui dosagens dos hormônios foliculoestimulante (FSH), testosterona e estradiol. Se houver alteração nos dois últimos, deve-se repetir esses exames juntamente com o hormônio luteinizante, prolactina e hormônio estimulante da tireoide (TSH). Os exames devem ser feitos pela manhã e exigem jejum de dez horas.
Outros exames que podem ser necessários na investigação da infertilidade masculina são: ultrassom de bolsa testicular com Doppler colorido, ultrassom transretal, avaliação genética e prova funcional.
Aos casais que estão tentando engravidar, é importante reforçar que a ampla maioria das concepções ocorre no primeiro ano de tentativas. No entanto, se houver fatores genéticos ou fisiológicos que possam dificultar o processo, a medicina reprodutiva evoluiu bastante nos últimos anos e possui procedimentos mais certeiros para investigar as causas da infertilidade, possibilitando, em muitos casos, tratamentos que ajudem a conceber de modo natural.
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